Friday, September 28, 2007

Djamba, de volta às origens



Fim-de-semana no Bilene, com os nossos meninos e parte da família moçambicana, o Singles e a Vânia! Belíssima companhia, ninos!
O Djambinha veio redescobrir a sua terra natal e servir de anfitrião da Matolona! Adoro os meus lindos!

Memórias de um menino soldado, por Ishmael Beah

"Durante o dia, em vez de jogar à bola no largo, revezei os meus companheiros nos posto de vigia em redor na aldeia, a fumar marijuana e a snifar brown brown, cocaína misturada com pólvora(...) davam-me imensa energia. (...) à noite víamos filmes de guerra. Todos queríamos ser como o Rambo; mal podíamos esperar para pôr em prática as suas técnicas. Continuámos a experimentar matar prisioneiros como o tenente fizera. Devíamos cortar-lhes as gargantas... segurávamos as baionetas na mão e tínhamos de olhar para a cara dos prisioneiros quando os matássemos. Não senti nada...agarrei na cabeça do homem e cortei-lhe o pescoço com um movimento fluído. A maçã-de-adão cedeu à lâmina... o tipo revirou os olhos. Deixei-o cair no chão e limpei a baioneta na roupa dele. Deixara de sentir piedade. A minha infância passara sem eu dar por isso e parecia que o meu coração se empedernira. Sabia que os dias e as noites chegavam e partiam... mas não fazia ideia se era domingo ou sexta-feira. Na minha cabeça a minha vida era normal. Tinha 15 anos."

in Uma Longa Caminhada, Ishmael Beah

Anos 90 na Serra Leoa...uma história de crianças traumatizadas e drogadas tornadas soldados de eleição, incentivadas a devastar tudo e a matar todos.
As estimativas actuais (UE/ONU) falam da existência de cerca de 300 000 meninos-soldados no mundo. A idade média de recrutamento das crianças-soldados situa-se em redor dos dez anos.



É perante este testemunho violento e destroçador que percebo o verdadeiro valor da paz e da liberdade...
Estes meninos podem ter muitas carências...mas, felizmente, é-lhes dada a liberdade para brincar na praia e gozar o sossego da paz.

Friday, September 14, 2007

Vida em África




Comecei este post com um pseudo vídeo incompreensível, apenas para vos aguçar a curiosidade. Antes de lerem mais, tentem adivinhar o que é que se está a passar…

Já tentaram??? Já desistiram???

Pronto. Vou descrever o que se está a passar nesta cena, para se poderem aperceber como um dia de trabalho em África pode ser totalmente diferente de um dia de trabalho na Europa.

Como alguns de vós saberão, uma das empresas sob a minha responsabilidade, centra a sua actividade no sector agrícola e uma das minhas últimas batalhas foi conseguir obter novas terras de modo a aumentar a área de cultivo.

Se eu tivesse na Europa, procurava numa agência imobiliária, ou nos classificados de um jornal, propriedades para vender. Contudo, aqui em Moçambique a terra não se vende…Aqui a terra é cedida pelo estado. E para que a mesma seja cedida, é necessário percorrer, todo um processo um pouco moroso e complexo que por vezes envolve algumas etapas caricatas, tal como a que podemos ver neste vídeo.

Um dos pontos fundamentais é conseguir a aprovação das populações das aldeias vizinhas. Para tal, o régulo (nome pelo qual é tratado o líder da aldeia), ordenou que se reunisse uma assembleia na aldeia, na qual eu fui quase que julgado em hasta pública. Lá tive eu que mostrar os meus argumentos (mais emprego, mais desenvolvimento para a aldeia, etc.) através de um tradutor (já que grande parte da população apenas fala o dialecto local Changane) e após uma breve discussão interna desta assembleia local, o meu pedido foi aprovado.

O passo seguinte, que podemos ver no vídeo, foi o mais engraçado. A terra, antes de ser entregue ao novo "proprietário" tem que ser abençoada. Para que o régulo processasse a sua reza, tive que trazer uma galinha e um garrafão de cinco litros de vinho. O vinho foi despejado na terra (apenas uma pequena parte claro está) e arrancaram duas penas à galinha que foram imediatamente espetadas na terra (esta é a parte que eu tentei filmar com o telemóvel, mas a única coisa que ficou perceptível foram os gritos da galinha quando lhe arrancaram as penas).

Explicação da reza: Em África os mortos ainda são enterrados perto do sítio onde as pessoas viveram. O objectivo desta reza é então saciar (com comida e vinho) as almas das pessoas que foram enterradas naquele terreno, de modo a que fiquem em paz comigo. Assim, a população garantiu-me que todas as culturas que eu fizer nesta terra irão ser prósperas, pois os verdadeiros donos da mesma estão em paz comigo. Vamos esperar para ver…

Vi... Ouvi... Partilhei...

Queria apenas partilhar convosco bom fotojornalismo de origem Russa: Sergey Maximishin, um nome a recordar

Façam uma Viagem em maximishin.com por todas os paradoxos desse país tão peculiar chamado Russia.

Thursday, September 13, 2007

Ilha dos amores- Património da Humanidade

Foram 3 dias inesquecíveis. Chegados a Nampula na sexta-feira, ficámos fascinados com as pedras gigantes que nos acompanharam na nossa viagem até à Ilha de Moçambique.Foram 3 horas de chapa para alcançarmos o paraíso...
O sensacionalismo da arquitectura das casas, casarões, igrejas, casarios palacianos, hospitais e mesquitas contrasta com o abandono e o vazio! Esta ilha que outrora foi capital administrativa do país, guarda silenciosamente os segredos de um império em busca da riqueza das especiarias.
Diz a lenda que Vasco da Gama, quando avistou a ilha e travou contacto com os 3 árabes que a povoam, achou por bem dar a esta terra quente o nome de Moçambique. Bique, Al e Moss simbolizam esta mistura de culturas que torna este lugar único. Os sabores, cheiros, ritos e religiões da Índia misturam-se com o que há de mais português no mundo. Não deixa de ser estranho esta miscelânea... entre territórios outrora evangelizados a ferro e fogo, co-habita o islamismo. O som das mesquitas, as especiarias na cozinha, os terraços e o ocre nas casas. Este é um lugar de encontros culturais e relações comerciais!
O Palácio do Governador conserva as mobílias de estilo indo-português, os tapetes de Arraiolos, as porcelanas "cavalinho"...retratos de Luís de Camões, D.Sebastião e outros reis de Portugal...e tesouros vivos como foi o nosso guia turístico, antigo criado do último governador de Moçambique, nos tempos coloniais.
Os fantasmas destas paragens continuam a guardar o misticismo e a história desde lugar.