Friday, September 28, 2007

Memórias de um menino soldado, por Ishmael Beah

"Durante o dia, em vez de jogar à bola no largo, revezei os meus companheiros nos posto de vigia em redor na aldeia, a fumar marijuana e a snifar brown brown, cocaína misturada com pólvora(...) davam-me imensa energia. (...) à noite víamos filmes de guerra. Todos queríamos ser como o Rambo; mal podíamos esperar para pôr em prática as suas técnicas. Continuámos a experimentar matar prisioneiros como o tenente fizera. Devíamos cortar-lhes as gargantas... segurávamos as baionetas na mão e tínhamos de olhar para a cara dos prisioneiros quando os matássemos. Não senti nada...agarrei na cabeça do homem e cortei-lhe o pescoço com um movimento fluído. A maçã-de-adão cedeu à lâmina... o tipo revirou os olhos. Deixei-o cair no chão e limpei a baioneta na roupa dele. Deixara de sentir piedade. A minha infância passara sem eu dar por isso e parecia que o meu coração se empedernira. Sabia que os dias e as noites chegavam e partiam... mas não fazia ideia se era domingo ou sexta-feira. Na minha cabeça a minha vida era normal. Tinha 15 anos."

in Uma Longa Caminhada, Ishmael Beah

Anos 90 na Serra Leoa...uma história de crianças traumatizadas e drogadas tornadas soldados de eleição, incentivadas a devastar tudo e a matar todos.
As estimativas actuais (UE/ONU) falam da existência de cerca de 300 000 meninos-soldados no mundo. A idade média de recrutamento das crianças-soldados situa-se em redor dos dez anos.



É perante este testemunho violento e destroçador que percebo o verdadeiro valor da paz e da liberdade...
Estes meninos podem ter muitas carências...mas, felizmente, é-lhes dada a liberdade para brincar na praia e gozar o sossego da paz.

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