"Singela homenagem a todas as vítimas da xenofobia"
Sinto que é chegada também a hora de nós, o povo moçambicano, nos defendermos da xenofobia de que estamos sendo vítimas de forma extremada na República da África do Sul.
A xenofobia, essa forma degradada de coexistência entre pessoas de pátrias e etnias diferentes, não é, infelizmente, nova na história da humanidade.
Mas pode ser nova a forma como desta vez os irmãos moçambicanos e sul-africanos a resolverão.
Desde sempre moçambicanos e sul-africanos se apoiaram reciprocamente para que ambos os povos melhorassem a sua qualidade de vida.
Ontem eram os nossos mineiros que fugindo ao chibalo iam vender a sua força de trabalho nas minas do rand. No pós-independência esta migração, por razões económicas e culturais, continuou até hoje.
Ainda durante a guerra de libertação de Moçambique, o nosso povo e o sul-africano se irmanaram no mesmo sofrimento em prol da conquista das respectivas liberdades. Os sul-africanos queriam libertar-se do odioso, violento e retrógrado apartheid e os moçambicanos do atrasado regime colonial fascista de Portugal.
Já no tempo colonial as tropas sul-africanas deram apoio secreto às acções militares de combate ao movimento libertador de Moçambique. Morreram moçambicanos e sul-africanos.
Sul-africanos e moçambicanos juntos sofreram com esperança no exílio nas décadas de sessenta e setenta.
A partir de 1975 até 1992 por agressões militares directas, sabotagens e guerras de desestabilização moçambicanos e sul-africanos refugiados em Moçambique morreram com as balas assassinas dos boeres.
Moçambique paga até hoje bem cara a sua factura da solidariedade tida para com a libertação do povo sul-africano do apartheid.
Quiça, por falta de esclarecimento político e por, aparente, escassez de informação sobre a sua história, 14 anos depois da queda do apartheid, pessoas que na altura tinham, talvez, 06 a sete anos de idade, acossadas pela falta de emprego, trabalho e ocupação dignificantes, são instigados a atacarem os estrangeiros como sendo os causadores - porque aceitando trabalhar a qualquer preço e em condições precaríssimas são preferidos - da sua desgraça.
É chegada a hora de, mais uma vez, o povo moçambicano mostrar a sua maturidade política e ajudar os seus irmãos sul-africanos a libertarem-se de mais este novo e perigoso inimigo que ameaça destruir a eles próprios e a todos nós nesta nossa rica região austral de África.
Com xenofobia não haverá integração económica regional real e reciprocamente vantajosa para todos os povos intervenientes nela. Nos diversos protocolos assinados sob a sombrinha da SADC visando a integração regional económica e que já estão sendo verificados alguns desarmamentos, nada está escrito sobre a necessidade de se "desarmar" também a xenofobia.
Em minha opinião a xenofobia protagonizada por uma minoria dos irmãos sul-africanos trará resultados negativos a toda a região austral de África, sendo a própria RSA a sua principal vítima, porque todos os estrangeiros jamais farão daquele país um local seguro para viver, trabalhar e investir.
Será que os sul-africanos vão também queimar vivos os jogadores estrangeiros que agora em 2010 terão que desembarcar na RSA para participarem no Campeonato Mundial do Futebol? Se os protagonizadores desta acção de xenofobia quiserem ser coerentes com a sua lógica diabólica e hitleriana, terão que agir também com violência contra aqueles jogadores de futebol e as suas claques que os acompanharão!
Chegou a hora de a sociedade civil moçambicana ajudar o nosso governo a sair de mais esta dificuldade interna que nos é trazida de fora.
Não vamos responder com violência retaliatória aos nossos irmãos sul-africanos. Eles estão equivocados. Eles precisam, mais uma vez, da nossa ajuda. Assim sendo e de entre várias coisas que devem ser feitas para ajudarmos a apagar o fogo que devora a casa do nosso vizinho, uma delas e com algum impacto político e diplomático nacional e internacional é esta:
"Vamos dar um abraço fraterno aos sul-africanos que vivem connosco em Moçambique e mandemos a imagem deste nosso gesto de perdão para todo o mundo. Nós os moçambicanos somos consequentemente amantes da Paz e excelsos hospitaleiros. Basta de violência entre os homens!".
Abraços e obrigado.
António Alberto Paulo Matabele
Wednesday, May 28, 2008
"Socorramos, de novo, os sul-africanos!"
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